segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Sustentabilidade e Esperança por Vivian Blaso

Sustentabilidade e Esperança

Por mais egoísta que se possa admitir que seja o homem, é evidente que existem certos princípios em sua natureza que o levam a interessar-se pela sorte dos outros e fazem com que a felicidade destes lhe seja necessária, embora disso ele nada obtenha que não
o prazer de a testemunhar.
                                                                                                                           Adam Smith

Na obra Nascimento da biopolítica, Foucault apontou que a chave do jogo estaria centrada na vida do indivíduo e com isso a dominação política do corpo iria contribuir com um homem necessário ao bom funcionamento da economia capitalista. 

Na economia neoliberal, o sistema político aparece como uma via para libertar o indivíduo da fobia de controle do Estado, contudo o que interessa ao Estado é a vida do indivíduo, mas este se encontra entrelaçado na multiplicidade de empresas e organizações que têm como interesses comuns mantê-lo empreendedor de si, economicamente ativo e controlado por indicadores mensuráveis que visam manter o bom funcionamento da economia capitalista. 

A governamentalidade é a maneira de conduzir as condutas dos indivíduos. Essa prática faz parte do jogo capitalista, pois é necessário que os indivíduos sejam homens econômicos, porque governar segundo o princípio da razão de Estado é fazer com que o Estado possa se tornar sólido, permanente e forte diante de tudo que possa destruí-lo.

Na década de 70, o "direito social" serviu como mote para ONGs, movimentos ambientalistas, manifestações de trabalhadores, e a chamada "sociedade civil" passa a ser a chave da economia e da política, pois defenderia os interesses comuns de comunidades internas sob a égide de que todos trabalham para o melhor de si e todos querem melhorar. Daí a sociedade civil só poderia ser compreendida a partir do comunitário, porque ela só existe no âmbito das relações entre as pessoas. A ONU passou a se preocupar com a destruição do planeta, para ancorar as discussões sobre meio ambiente, e aqui foi dada a largada ao início de uma escala de produção do saber sobre tecnologia ambiental, poluições, riscos à saúde humana e um conjunto de técnicas para a melhoria das condições de vida das populações economicamente ativas.  

O CONSUMISMO passou a ser o alvo dos documentos elaborados pela ONU e apontado como uma das raízes da crise ambiental. Agora o que prevalece são as práticas de produção e consumo sustentáveis (PORTILHO, 2010).

O dispositivo meio ambiente passou a ser o alvo de uma nova prática de governar a população. Agora o que interessa é garantir o bom funcionamento entre homem e natureza, pois sem o controle do meio a economia poderá entrar em colapso e isso poderá colocar em risco todo o sistema capitalista atual. Não podemos esquecer que Foucault, em 1970, já apontava que "as práticas discursivas não são pura e simplesmente modos de fabricação de
discursos. Ganham corpo em conjuntos técnicos, em instituições, em esquemas de comportamento, em tipos de transmissão e difusão, em formas pedagógicas, que ao mesmo tempo as impõem e as mantêm".

A noção de ecopolítica proposta pelo professor Edson Passeti procura responder a algumas dessas novas institucionalizações. Segundo Passeti, "não se trata de disciplina acadêmica ou componente da gestão do governo sobre a população ou o meio ambiente, mas de prática de governo do planeta nos tempos de transformação (de si, dos outros, da política, das relações de poder e do planeta no universo), com desdobramentos transterritoriais e variadas estratificações conectadas". 

Essa noção de governamentalidade aqui proposta não esgota as discussões pelo tema, e nessa reflexão não tenho a intenção de demonizar a sustentabilidade ou tipificar a sua importância sob a égide da economia, ou da produção de indicadores para aferir o grau de importância, eficiência ou inabilidade de lidar com as consequências ambientais extremas causadas, por exemplo, pelas mudanças climáticas. Se assim o fosse, chegaríamos a pensar
que o projeto de humanidade fracassou, que não teríamos saída e com isso perderíamos a esperança por uma condição de vida melhor. O fato é que a noção de sustentabilidade passou a incorporar práticas empresariais, econômicas e cotidianas no modus operandi da sociedade de consumo. Não podemos esquecer que na economia capitalista é preciso melhorar sempre, mas a história produz o inesperado diante do insuportável e diante do insuportável inventam-se atmosferas outras. 

Tomara que as outras atmosferas sigam o caminho da esperança, como foi proposto por Edgar Morin e Stéphane Hessel (2012) em seu manifesto A Caminho da Esperança, onde apontam o resgate da solidariedade como um bem viver que pressupõe o desenvolvimento individual no seio das relações comunitárias pautadas pela ética, cuja fonte é a responsabilidade das ações e hábitos sociais que vêm causando o estresse no planeta e levando a sociedade a viver nos limites que ele pode suportar. Para que isso ocorra, será necessário o desenvolvimento de uma democracia que seja capaz de religar o indivíduo, espécie e sociedade, ou seja, natureza, cultura e tecnologia com um único propósito: o bem viver. Ou, como dito por Adam Smith, pelo simples prazer de testemunharmos.

Autora: Professora VIVIAN AP. BLASO SOUZA SOARES CÉSAR, Doutoranda e Mestre em Ciências Sociais (PUC-SP), MBA em Gestão Estratégica de Marketing (UFMG) e Especialista em Sustentabilidade (FDC), Relações Públicas (CNP). - vivianblaso@uol.com.br